segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Otelo - Lanternas de Shakespeare

por Dalton Braz - 29/08/11


Sombras iluminadas por lanternas. Tecidos, véus.
Falas iniciais controladas. Corpos elaborados, construídos a espera da emoção.
Vozes...

A fluidez de Iago.
A sua covardia, sua fala hábil, mole e enganadora.
Serpente envolvente que aprisiona e destrói.
Foram ludibriados por sua saliva viscosa e preta.

A fala de Desdêmona é doce.
A atitude de Otelo é vigorosa.
O lençol de seda que os une ainda é leve e cheira a aproximação.

Iago, confiável amigo, engana Otelo que acredita na união improvável de Cássio e Desdêmona.
Ciúme, planta rasteira que sufoca, prende e mata as aves migratórias do peito.
Desperta animalidade, rasga a racionalidade, deixa a voz baixa; aproxima os bichos sanguinários
e torpez da mente.

O roubo do véu e a dança de posse entre Iago e Emília. Imagética certa e sensual.
Depois, o véu envolve a prostituta leve e acostumada ao ofício.

Para Otelo, o véu é pesado, escuro, cheira a cama e odores baixos.
Delírio sem braço, sem mão, polvo de braços sufocantes.
Desdêmona fica imóvel, fria mas quente de amor.
Otelo frio, imóvel e repleto de arrependimento e lágrimas.

O desespero cego de Emília ilumina o mal entendido.
Enquanto, a lâmina amolada encontra o corpo do negro Otelo.
O sangue não é suficiente. A morte não é suficiente.
O Amor e a morte próximos com suor e corpo , vela e a escuridão.

Ciúme fundo de Otelo. Poço sem fim, vale escuro, zona abissal.
Ciúme inconseqüente e sem luz.
No fim, a lanterna não ilumina. Apaga-se e engole a alma do Mouro.

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